Arte moderna, Arte do sec. XX, no Museu da Cidade (2)

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Esta imagem não se refere ao texto abaixo. Representa a contra-capa da exposição de abertura do Museu da Cidade, no Edifício Chiado em Coimbra.

Publicado Diário de Coimbra  13 de Maio de 2003

A exposição que se encontra no Museu da Cidade, comissariada por Telo de Morais, continua a suscitar uma merecida atenção e um elevado número de visitas, revelando-se uma iniciativa esclarecedora de alguns aspectos, infelizmente ocultos, do sentido de modernidade em Coimbra no que toca às artes plásticas, para o período a que diz respeito. Tendo tido ocasião de referenciar o primeiro de tais acontecimentos (a exposição é projectada no tempo em capítulos distintos que vão estender-se até Janeiro próximo) muito ficou por dizer, e é por isso que volto a estas “conversas”, sem receio de que me falte assunto.

O desejo e a capacidade de ler a actualidade

A realização tem por base um limitado número de peças dum limitado número de artistas e não abrangerá naturalmente a totalidade de coleccionadores de Coimbra. Como já disse no primeiro comentário escusa-se ainda (compreensivelmente?) à inserção de valores residentes. A espiral descendente que assim se desenha em nada diminui o mérito da iniciativa que pode a vários títulos considerar-se percursora, numa cidade que não se envergonha de um acentuado “deficit” de modernidade estética que é traço grosso da sua própria fisionomia urbana e dos vocabulários da sua  representação socio-cultural. Sendo difícil classificar exaustivamente todo o tipo de impulsos que conduzem à formação de colecções de arte moderna, é claro que implicam pelo menos o desejo e a capacidade de entender e acompanhar fenómenos de cultura da própria actualidade. A incapacidade de fazer a leitura e de conviver com objectos estéticos cuja antiguidade pode ter quase um século tornam imperioso o estabelecimento dum amplo debate de ideias, por todo o tipo de razões, até de natureza não exclusivamente artística. Depois do comentário feito à primeira das exposições deste ciclo, impunha-se à minha curiosidade a avaliação das ideias e do sentimento de um dos coleccionadores colaborantes da mostra, uma das tais pessoas cuja identidade foi – ao que me parece injustificadamente – mantido no âmbito duma cautelosa confidencialidade, a que a curiosidade incontida acaba por conferir a volatilidade daquilo que em teatro se apelida um “segredo de Polichinelo”. O estabelecimento do contacto acabou por fazer-se de forma perfeitamente natural, e nem à pequena história interessam os detalhes que me levaram à presença duma pessoa apaixonadamente interessada, intelectualmente inquieta e repleta de todos os atributos do espírito que eu acho condizentes com o estatuto interessantíssimo do genuíno coleccionador de artes. Numa coisa tive de concordar, por respeito às conveniências idiossincráticas da cidade que todos (mal) conhecemos ou seja, a manutenção do anonimato do meu interlocutor!…

Arte em diálogo, precisa-se!…

A presente crónica não conseguirá resumir o vastíssimo leque de sensações fortes que a troca de impressões me proporcionou, após uma visita à esclarecedora e surpreendente reserva de obras na posse do coleccionador, e ao longo de um jantar de amigos que, noite fora, nos permitiu “assentar ideias” a respeito duma variedade muito ampla de temas e problemas: o ensimesmamento e o passadismo artístico-intelectual vigentes; a carência dum verdadeiro encontro entre pessoas interessadas e respectivo debate de ideias; a subalternização de certas iniciativas através da negligência promocional; a pobreza de entusiasmo dos “funcionários da cultura”; a inexistência de “gestores culturais” devidamente habilitados; o ascendente que o “político” e o “burocrático” possuem no plano das realidades concretas; o enfileirar estatístico de acontecimentos avulsos, à margem dum sentido de projecto cultural, etc. Por último, nem foi esquecida a falta de galerias de arte suficientemente pujantes, com projectos dinamizadores e desejo de credibilizar a arte e os artistas!…

Crónica de entrevistas adiadas

O Coleccionador (chamemos-lhe assim, e ponhamos maiúscula por ser equivalente de nome próprio) prometeu alinhar, para publicação oportuna,  algumas ideias interessantes a respeito da atitude e da substância da colecção de obras de arte. Fica portanto prometida sequência para este início de “conversas” sobre a “Arte Moderna, Arte do Sec XX”, para as quais ficam todos desde já formalmente convidados, neste mesmo sítio e lugar.

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