..
O trabalho que uma criança faz com todos estes materiais e o resultado que produzem, sugerem a algumas pessoas que se trata de uma sondagem de inclinações ou vocações futuras.
Julgo que não vale a pena pensar nessa relação directa, seja em que sentido for.
Há crianças muito activas e que são julgadas muito “bem sucedidas” até certa idade, apenas porque produzem uma mão cheia de papéis coloridos que enchem de prazer e de esperança ingénua os respectivos papás. Que “desponta uma vocação”, que “o menino tem muito jeito”, coisas assim… Dois ou três anos depois o rapaz ou a menina nem olha para os pincéis nem para as cores, não “perde” um minuto a desenhar, não pinta que seja uma rudimentar carantonha, perdeu toda a curiosidade, os “dotes” e o “jeitinho” não passam duma lembrança breve, já esgotada.
Será então que foi tudo debalde? Claro que não!…
Primeiro, julgo que será dificílimo trazer uma criança a tarefas deste género se ela for inteiramente alheia às mesmas, ou não saiba retirar prazer delas.
No caso afirmativo, o trabalho feito na área da expressão criativa é sempre de aproveitar porque conduz a criança à aquisição de certas operacionalidades psico-motoras e intelectuais importantíssimas, aproveitando o prazer que tem nisso como estímulo valorizador da sua actividade.
Operacionalidades essas que, só por conjugação de circunstâncias imprevisíveis, irão acordar “a vontade da arte” mas que, num caso ou noutro, servem sempre como processo estimulante das capacidades gerais do menino e das aptidões de que necessita para aperfeiçoar e melhorar a sua adaptação às complexidades do mundo.
Para o adulto, por seu turno, exercer a capacidade de “fixar” a criança à laboriosa tarefa de brincar alegremente, produzindo trabalho “sério”, não deixa de ser um desafio de certo nível de dificuldade, premiado geralmente de forma muito expressiva pelo entusiasmo participativo, pelo ensejo da convivência e pelo privilégio da alegria
..