publicado no Diário de Coimbra de 16 de Março de 2008
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Da fachada da Biblioteca Geral pende uma faixa comprida, com a assinatura de Luiz Pacheco. “Eu não tenho imaginação”, é nela declarado pelo escritor, figura tornada fascinante devido à sua desordenada bizarria a que a sociedade conformada e silenciosa que todos nós construímos não tem deixado de prestar um significativo preito de atenção.
Valha-nos o facto saudável desta exposição não ser uma homenagem como tantas, tão pleonásticas, tão fatigantes. É, adequadamente para uma Biblioteca Geral universitária, um registo de presença de um autor problematizante e oblíquo ao conformismo. A presença na Internet e nos meios de comunicação a respeito do escritor, a que é inteiramente supérfluo chamar “polémico”, é muito abundante e elucidativa, embora os seus livros sejam raros nos escaparates.
A visita à BGUC recomenda-se, e que o visitante não vá com pressa. Que leve tempo para entrar pelas vitrinas com vagar de ler palavras sentidas, testemunhos directos e pungentes da vontade indómita e da palpitação acelerada dum coração inquieto.
Os intervenientes no colóquio que ali teve lugar para inauguração da mesma eram, além de estudiosos, pessoas estreitamente ligadas à pessoa e à obra do artista. Um deles, seu filho, falou não omitindo nem iludindo essa qualidade, mas declarando-se primordialmente como seu leitor e admirador. Todas as participações foram abundantemente elucidativas, mas a respeito de um outro Luiz Pacheco, diferente do que nos é apresentado como caricatura dele mesmo, ao arrepio da sua verdade essencial de escritor, crítico, editor e semeador de inquietações.
Afirmou o artista, portanto, que não tinha imaginação. Um dos participantes explicou, ao abordar a diferença essencial entre os “escritores da memória” e os “escritores da imaginação”, que isso se deveria ao facto de que a própria vida por ele vivida já era o bastante para satisfazer a sua vontade de intervir, o seu sentido de missão e de projecto, o seu peculiar sentido de liberdade.
“A imaginação é a minha vida”, dizia Pacheco, acrescentando noutra altura a respeito de si mesmo que “a minha escrita é o meu real”. Outra coisa disse também: “Não há escritores malditos, há é escritores mal escritos”. Os seus mais próximos conhecedores consideram-no não um marginal, mas um praticante de “uma escrita de estrutura eminentemente clássica, com delicadas subversões”.
No exercício da sua actividade de editor revelou sempre um cuidado meticuloso em todas as tarefas levadas a cabo, integralmente exigente na escolha das obras para publicação, todas elas dentro do critério da criação artística e nunca no da escrita de largo consumo.
Raul Leal, Natália Correia, António Maria Lisboa, Herberto Hélder, Vergílio Ferreira, Mário Cesariny, entre outros, foram autores que publicou. Se o leitor tomar a decisão de visitar esta exposição, e acho muito bem que o faça, pode consultar antes a elucidativa documentação publicado sobre este acontecimento no site da BGUC, em: http://www.uc.pt/bguc/luizpacheco.