Numa certa altura foi o mundo inteiro sacudido pelo medonho fenómeno da chamada “peneumónica” ou “gripe espanhola”. Sebastião regressava um dia de seu trabalho e, ao atravessar um jardim de Providence, soltou-se-lhe um vómito estranho da cor do sangue. Ficou preocupadíssimo porque sabia que era um dos sintomas de estar inoculado pelo vírus da doença. A forma como sempre contava a história dos factos ocorridos depois estava a meio caminho entre a realidade que certamente viveu e uma espécie de acaso proveitoso do destino, que não sei explicar. Dizia que se aconselhava às pessoas assim receosas que regressassem imediatamente a casa, que recolhessem ao leito bem agasalhadas e que fumassem e bebessem bebidas alcoólicas, dentro do que fosse possível. Sebastião assim fez. Diz ter passado por um estabelecimento logo de seguida, onde adquiriu algumas onças de tabaco e garrafas de whisky. Transpirou os trinta farrapos e assim aguentou um certo número de dias, o prazo crucial que era indicado para os felizes que conseguiam vencer a enfermidade.
Que a história é verídica não duvido porque meu avô era um homem de sinceras verdades. Quanto à mezinha e ao resultado que alcançou não me convencem muito, mais me parecendo recurso de certo desespero para pessoas distanciadas de outros meios mais especializados, ou pela falta de tratamentos que não existiam na altura, pois não haviam ainda sido descobertos.
Terá sido no “Café delle Tre Stelle” que Sebastião comprou as bebidas de que falava? Foi por certo antes da aplicação da Lei Seca, o que está conforme com a época em que a doença se propagou (1918) e a data de promulgação daquela lei (1920). A peça que aqui se mostra é uma pequena relíquia do meu avô por ele trazida de Providence.