Já fiz algumas considerações relativas à resolução do regresso a Portugal, de que Sebastião se iria tão lamentosamente arrepender.
Aqueles que lhe ouviam esse queixume nem sempre tinham a paciência de o escutar.
Os imensos defeitos que encontrava no seu dia a dia português ajudaram-no a idealizar todos os recordados encantos da América, que ganharam um espaço cada vez maior, porventura exagerado, na sua consciência. A tendência foi-se agudizando, ano após ano, sobretudo depois ter perdido essa condição essencialmente única que era a dum homem da terra, envolvido nos seus ritmos sazonais, no levantar cedo, no ar limpo do campo, nessa familiaridade transcendente que há entre os gestos do semeador e o milagre sempre renovado da germinação das sementes e do arredondar dos frutos.
– Se gostava tanto da América porque é que se veio de lá embora!?…
A verdade desse reparo era muito mais insignificante que a dor que lhe causava, facto que foi encerrando meu avô numa cápsula de melancolia e solidão.
Trabalhar como operário industrial, verificar a eficácia das “union fittings” de E.M.Dart foi um dever de manutenção familiar feito projecto; o regresso à terra era o sonho de Sebastião!…
Julgo com efeito que foi essa mesma intensa identificação com a terra que o fez regressar, porventura antes do tempo. Ainda na América chegou a acalentar a ideia de se dedicar à agricultura, tendo chegado a visitar e apreçar um lote de terreno para cultivo (um “fâm” – farm, claro), tentativa essa que não se tornou realidade.
Outro projecto que teve foi o de comprar um certo lote para construção de uma casa. A notação a lápis, já gasta pelo tempo, diz-nos que seria o talhão número 60 da urbanização “Brightdridge Plat Nº 2”, em East Providence, e ficava na Fenmoor Street.
Quem não teve projectos falhados alguma ou muitas vezes na vida que atire a Sebastião a primeira pedra!…
Os projectos falham, os sonhos são invulneráveis
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