A jarra do lado esquerdo foi fabricada numa oficina do Juncal de Porto de Mós que, durante o século XX exportou imensa loiça para o estrangeiro. Ofereci um bom número de peças dessas a amigos estrangeiros e tenho pena de não ter guardado umas tantas também para mim. Esta lá resistiu à paixão da oferta…
Porque cessou de laborar essa fábrica, não sei dizer. Também muita loiça notabilíssima, antiga, e merecedora de galas de prestigiados museus foi deitada fora, partida sem dó. Neste risonho e soalheiro país a distracção sem nexo e as cabeças cheias de areia e água chilra não são só de agora…
Estas duas imagens, apresentadas assim, enganam um bocadinho. As jarras propriamente ditas não são tão iguais no tamanho. A direita (e essa é das antigas…) é mais pequenita que a outra.
A da esquerda, mais regularmente industrial, possui uma cor muito genuína, a luz reflecte-se nela com a mesma suave alegria e as mãos que a pintaram são do mesmo sangue e do mesmo povo que deu vida à do lado direito.
Quem inventou todas estas subtilezas da sensibilidade que ilustram a nossa tradição artística não foram as competências sentadas nos cadeirões: foi o coração, os olhos e as mãos calejadas da gente simples…
Por isso tem sido tudo tão mal amado e até – como se prova facilmente – abandonado sem prazer nem proveito para uns e para outros…
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