Um Centro de Desenvolvimento da Cultura Cerâmica em Condeixa

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Em Coimbra e na sua região têm tido intensa actividade, desde há milénios, uma multidão de oleiros e gente ligada à produção de materiais e objectos cerâmicos.
Como noutras partes do mundo esta actividade foi essencial para a utilidade, para o conforto e para a própria sobrevivência do homem.
À distância de séculos é possível descortinar a importância que teve o objecto de utilidade essencial e o encanto que possuiu o simples objecto de adorno. Uns e outros foram produto de atenção dedicada, de esforço de trabalho e certamente constituíram, cada um a seu modo, pequenas parcelas de uma actividade que deu de comer a quem a ela se dedicou com esforço criador e sensibilidade. Milhares de famílias, milhares de mãos, milhares de bocas, milhões de horas e muitas vidas se consumiram em torno dessa arte que é feita de invenção e necessidade, mas que também é feita de paixão e sentimento.

Em Coimbra e na sua região há universidades, institutos, fundações e toda a sorte de organismos complexos que envolvem responsabilidade, conhecimento e dedicação.
Mas tem faltado aos obreiros e industriais dessa antiga arte uma organização que não existe e que faça a ponte entre eles e todo o edifício da sociedade. Uma entidade que promova com legitimidade os interesses e necessidades que são seus e que sirva de agente de enriquecimento da comunidade em geral. Que explore novas frentes de desenvolvimento, que divulgue novos aspectos de uma actividade antiga renovada pela actualidade de novos saberes e novas tecnologias.

Começa-se agora a falar em Condeixa da constituição de um Centro de Desenvolvimento da Cultura Cerâmica, uma instituição que deveria estar de pé desde há séculos se fossemos a raciocinar em termos de utilidade e de necessidade.
Dirão alguns que é tarde e que agora já não vale a pena. Nós dizemos que sim agora, por não ter sido antes, e porque é urgente estancar a sangria de esquecimento e indiferença por um património que é precioso e que convém renovar a cada dia que passa.
Ainda há muito para salvar da memória que restou e quanto às novas empresas, às entidades de grande sucesso com negócios que correm o mundo, há que consolidar conquistas, alargar o prestígio ganho e organizar a representatividade local e universal. Os novos processos de organização e aquisição de novas técnicas produtivas, os novos instrumentos de divulgação, o estudo de novos produtos e a defesa da sua imagem abrem para um futuro que não é só adereço acidental mas condição de sobrevivência.

No que toca aos antigos oleiros da cerâmica decorativa, podemos estar no último momento possível para levar a cabo a tarefa de estudar o seu interesse e preservar o património vivo que representam.
No tempo antigo os rapazes ainda novos começavam a aprender o seu ofício indo para a oficina no fim da escola primária (se a tinham frequentado até ao fim…) e aprendiam tudo desde o princípio, herdando gestos e saberes que tinham séculos.
Agora, felizmente, ninguém quer tal ofício. A escolaridade é mais larga e ninguém está disponível para o sacrifício que foi imposto a tantas gerações de trabalhadores servis.
Esta é, portanto, a altura de procurar organizar a memória e fixar o testemunho de quem viveu doutra forma, numa sociedade que tem que contar e sabe coisas que podem, mas não devem, ser esquecidas para sempre.

No que toca a negócios de outra monta, estudando a história mais recente, é possível alinhar nomes de importantes empresas que foram marcos notáveis da produtividade desta região e que, também elas, soçobraram perante a força de circunstâncias diversas, umas sabidas outras dificilmente explicáveis.
Em todas as regiões onde se observa a implantação de indústrias de um determinado tipo existem instituições que salvaguardam a cultura inerente a esse universo produtivo e que constituem suporte e produzem estímulos favoráveis à manutenção e ao desenvolvimento das mesmas.
O formato dessas instituições deriva do estilo próprio que cada região, da índole dos grupos sociais que a rodeiam, mas representa sempre uma plataforma sobre a qual se dão as mãos diversas potencialidades culturais, científicas e organizativas, capazes de multiplicar energias de proveniência diversa, criar solidariedade, adicionar e aperfeiçoar vontades para benefício colectivo actual e futuro.
É necessário neste tipo de iniciativas que o conhecimento não vire as costas à metodologia do trabalho industrial e operário, que o lustre académico não se envergonhe das mãos calosas e que haja permeabilidade, desejo de explorar, esclarecer e desvendar novos caminhos.

Na aventura do conhecimento há lugar para uma imensa variedade de abordagens e descobertas e uma boa ferramenta que serviu durante séculos não deve ser deitada fora sem serem experimentadas novas soluções que nos tragam progresso, desenvolvimento e esclarecimento.
Aliás, os modelos de trabalho neste tipo de instituições estão abundantemente demonstrados na prática em numerosos exemplos que podem e devem ser estudados. Um Centro de Desenvolvimento da Cultura Cerâmica poderia desempenhar funções importantíssimas nos mais diversos aspectos da defesa e promoção dos interesses duma imensa variedade de profissionais, dos mais modestos aos mais solidamente organizados.

É impossível começar já a configurar um modelo definitivo que resolva todas as perplexidades que envolvem este tipo de projecto, mas é profundamente importante que não se adie para amanhã o que se pode fazer já.
Falemos uns com os outros. Esse é, para já, o modelo assumido de exploração de reconhecimento do passado e de descoberta do futuro.
Para que mais tarde outros não venham lamentar o que nós também lamentamos quanto às omissões do passado, sem termos assumido uma responsabilidade que é nossa e que é fundamental para o progresso de toda a comunidade em que estamos inseridos.

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1 thought on “Um Centro de Desenvolvimento da Cultura Cerâmica em Condeixa

  1. VAMOS PINTAR CERÂMICA!

    Concordo inteiramente com as suas palavras. Como defesa da Cerâmica de Coimbra e Condeixa, criamos um livro infantil sobre este tema. Que temos esperança que um dia chegue a todas as crianças, pelo menos da nossa região.

    Responder

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