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Não é necessária ciência alguma nem histórias complicadas com letras e datas. Não é preciso explicarem nada.
(Os sábios só estorvam com seus livros pesados bem escondidos debaixo do braço e suas palavras lentas como lajes de sepulturas…).
De onde conhecemos estas coisas é daqui de dentro, da lembrança de tardes paradas na memória ou do ramo de flores secas esperando sem tempo naquela jarra tão familiar.
Vai passarinho vai, leva esta carta à minha namorada! Corre cachorrinho corre, vê se trazes novidades boas do meu amigo!
Oh, quem me dera poder subir às torres altas do castelinho que repousa naquela nuvem e espreitar dali as vivas cores dos dias de nunca mais!
Desenhadas a azul e branco são como capelas de sonho no cimo dos montes claros.
Pintados de cores diversas são como mesas postas em toalhas de alvo linho.
De onde conhecemos perfeitamente tudo isto? Eu sei lá…
Em que praças ou em que ruas teremos cruzado os homens que descobriram, as mãos que fizeram, os poetas que desvendaram? Vá lá saber-se…
Talvez tenha sido tão-somente como diz aquela arrebatadora canção de Vitorino:
“…nas ondas do mar
do mundo inteiro
terras da perdição parco império mil almas
por pau da canela e Mazagão.
Pata de negreiro
tira e foge à morte
que a sorte é de quem a terra amou
e no peito guardou
cheiro da mata eterna
laranja, Luanda sempre em flor…”
Este texto foi publicado na Revista de Informação do SBC, de Julho/Agosto de 2008
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