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- col JML
Caro visitante,
O estudo deste tema artístico-cultural é dos que exige, além do gosto e da boa vontade, meios adequados, os quais não são fáceis de reunir. É preciso ter acesso a colecções para poder observar e reflectir e, na sua falta, é necessário ir coleccionando o melhor que for possível encontrar. Geralmente esse trabalho de pesquisa e de enamoramento pelos objectos leva o seu tempo e não é de todo grátis.
As visitas, o convívio com interessados e conhecedores, o ambiente selecto dos antiquários e dos leiloeiros de peças valiosas não está ao alcance de qualquer um. Leituras, muito estudo, bons livros raros, mestres que se tenham por fortuna revelado prestáveis na passagem de segredos e noções “sólidas”, etc.
Sobre estes últimos acasos da sorte não me vou pôr com sentenças filosóficas, dado ser sabida que a propensão para a generosidade desprendida não é moeda muito corrente.
Os melhores interessados nesta matéria, por outro lado, construiram um saber feito de antiguidade, dedicação e pertinácia. Quem corre por gosto não cansa, é sabido.O modelo que assim comecei por definir é digamos, o modelo “clássico”, com mais uma série de variantes indeterminadas que o leitor poderá conhecer muito melhor do que eu, Pelo ar da carruagem, o visitante também já deve ter percebido que não estou nesse contingente – geralmente distinto – de apreciadores qualificados.
O meu estilo é completamente diferente. Entrei pela porta dos fundos. Comecei a gostar com simplicidade há muito tempo, a poder de olhar de longe, como quem espreita. Se fiz alguma reflexão nunca foi na categoria do coleccionador, nem rico nem meio rico. E, para ser sincero, alguns dos apetrechos de “finesse” que acima refiro, conheço-os só por imaginar que possa ser assim. É por assim dizer, uma intuição de tipo meramente literário.
O meu ambiente, aquele de que mais gosto, é o das oficinas dos homens modestos que fazem estas coisas desde crianças, muitas vezes.
As peças que tenho aqui fotografadas foram, na sua maioria, compradas directamente em oficinas de pintores de cerâmica. Não são peças distintas, antigas, com nome na praça. Mas são minhas, exceção feita a algumas que pertencem à coleção do meu amigo Dr. José Machado Lopes e que devidamente identifico. E, como já esclareci algures, um bom número das peças que tenho compradas foram oferecidas a amigos. Nas vezes que fui ao estrangeiro em tarefas algo culturais ou artísticas, levei sempre… loiça de Coimbra. Um sucesso, caros amigos!…
Neste texto, escrito a azul, que é uma das cores mais fáceis da paleta do artista cerâmico pelos efeitos que produz e pela estabilidade do pigmento a altas temperaturas, tenho o prazer de afirmar – como é possível ver as páginas aqui dedicadas à pintura de azulejos – que não sou desses insígnes “connoisseurs” nem abalizado investigador. A minha maneira de gostar da cerâmica pintada é a mais directa e a mais entranhada que pode existir: é com a vontade, com o coração e com todos os dedos de ambas as mãos.
Um dos pontos mais salientes e valiosos desse querer e desse gostar situou-se na abordagem e no conhecimento que estabeleci com vários artistas da cerâmica de Coimbra. Entre outros de mais ligeiro contacto refiro com muito apreço e consideração os Senhores:
- António Barrico Vaz, de Sebal Grande;
- António Dias Salgueiro Póvoa, de Sobreiro/Condeixa;
- António Rebêlo, também de Sebal Grande e
- Belmiro Miranda Quitério, nascido em Coimbra e criado em Vila Pouca de Cernache.
Se me for possível compatibilizar com as minhas actividades pessoais e familiares tenho a intenção de vir a alargar o conhecimento com estas e com outras pessoas deste mundo, nem sempre fascinante porque ingrato, custoso e nada magnânimo que é o mundo dos artistas pintores de cerâmica decorativa de Coimbra.
Disso irei ter muito tempo para falar convosco, um pouco mais adiante no tempo, num trabalho que venho fazendo a este respeito, que já está a muito mais de meio, mas que ainda não está tão completo como gostaria. A publicar em breve, digamos!…
Grande abraço a todos
CB.
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A louça de Coimbra é uma produção significativa porque dá vida a produtos que contém em si um potencial expressivo de índole artística e cultural genuíno e com as suas raízes profundamente mergulhadas no tecido de referências que nos caracterizam como povo e como universo de relacionamentos estético-históricos.
Se fosse um processo devidamente acompanhado desde a sua remota antiguidade, poderia constituir certamente um património artístico de muito mais dilatado valor, não deixando por isso de se poder organizar no presente e no futuro como meio de trabalho e de rendimentos de mais acentuado interesse.
Não vejo nenhuma espécie de contradição ou inconveniente na convergência destes dois factores de apreciação e não é difícil descortinar por esse mundo além exemplos claramente demonstrativos da conveniência objectiva e subjectiva desta forma de encarar o fenómeno.
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Ainda que pela vida fora muita loiça artistica de Coimbra se parta ficará aqui gravado, para sempre, tudo o que de mais belo existe na arte de olaria e pintura na Lusa Atenas. Bem hajas costa brites.
Caro Branco Ferreira,
Vê-se que ficaste entusiasmado por estas poucas imagens da loiça de Coimbra e fico muito feliz por isso.
Imagina se os “cabeça-grande” deste arrastado mundo lhe dessem a atenção que merece e favorecessem melhor o trabalho de quem a faz!…
Uma coisa bonita que ainda por cima dá trabalho e É riqueza produzida.
Ainda para aí tanta gente a dormir, Manuel!…
Grande abraço