Parte II – Imagens e objectos

A primeira fotografia / cidade de Tomar, cerca de 1906
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A primeira imagem que existe do meu avô, de que tenho conhecimento, é esta.

Como indica o cartão castanho escuro sobre o qual se encontra aplicada, foi tirada por um tal Carlos Gomes “Photographo excursionista”, que registava no texto de apresentação do seu currículo ter sido empregado na “photographia Vidal & Fonseca, Photographos da Casa Real”, e que tinha o seu estúdio na Rua do Grémio Lusitano, 32 – 4º em Lisboa.
Mas não foi ali que Sebastião de Matos Gomes, aí por volta de 1906, tirou esta fotografia, como outra mostrada na “Parte I” desta resenha, ambas com a farda principal, numa envergando um barrete mais simples e em pose normal, outra com uma barretina mais formal e empunhando o sabre.
Como saberemos pela imagem a seguir o fotógrafo de Lisboa era “excursionista”, forma fina de dizer que era “ambulante”, tendo as fotografias de Sebastião sido feitas em Tomar, onde estava localizado o Regimento de Infantaria 15, dispositivo militar que para ali fora transferido em 1901 depois de uma longa história militar que não vem ao caso.
O número 15 no barrete e na gola confirmam de uma forma clara o que eu bem sei, que foi ali que Sebastião prestou serviço militar.
Embora baixo e pouco corpulento estava afeito a tarefas duríssimas, a viver com pouquíssimo alimento e sem conforto de espécie alguma. Em sua casa (como em tantas outras casas de portugueses desse tempo) era natural que sua mãe cortasse em pedaços uma sardinha e a distribuísse sobre pequenos pedaços de pão, para que cada um fizesse figura de refeição para outras tantas bocas.
O episódio não é uma suposição inventada, foi o próprio Sebastião que o descreveu num serão após o jantar na casa onde morámos em Leiria, lá por volta de 1950.
São visíveis no retrato as suas duas mãos, esse território tão frequentemente explorado por mim desde criança com uma enorme curiosidade, no pleno gozo de uma intuitiva e serena intimidade consentida. Eram compactas, espessas e musculadas com dedos curtos mas grossos o que os obrigava a abrirem-se um pouco, quando em repouso.
Entre mãos e estatura existia a concordância caracterizadora de um homem de pequena estatura, cujas mãos possuíam a mesma solidez que o carácter do seu dono e a firme determinação de um homem de trabalho.

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Parte detrás do cartão da fotografia acima

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